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A Escrita que mora em mim 

Mural de Práticas

Nacional | Paraná

Março /2018 – Dezembro / 2019

Pessoa em privação de liberdade

Promoção da Saúde

Saúde da Mulher; Saúde Mental; 

Escrita, Autoria; Acolhida; Sentido; Significado

Autores:

Jane Cleide Alves Hir

Instituições parceiras

Secretaria de Educação e do Esporte (SEED); Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN)

Do que trata a experiência?

Trata-se de uma experiência com o ensino da escrita como possibilidade restaurativa e humanizadora na Penitenciária Feminina do Paraná. Nesse relato a intenção é descrever um projeto de escrita que, embora inserido na prática docente das turmas de Fase I (anos iniciais do Ensino Fundamental), objetivou possibilitar nas apenadas uma reflexão sobre si mesmas, suas trajetórias, escolhas e sonhos na perspectiva da construção de uma autoria saudável para além do delito.  Além disso, essa experiência, ao possibilitar a expressão das emoções  contribuiu para a saúde mental e emocional das mulheres que naquele momento enfrentavam a angústia do encarceramento.

Que motivos levaram à realização da experiência?

Considerando a escrita como uma possibilidade única de expressão da subjetividade e compreendendo que o ato de escrever pressupõe a interação das diferentes categorias de pensamento, e além disso, possibilita uma releitura das nossas narrativas, eu me senti motivada desde o meu início como professora do sistema prisional a trabalhar nessa perspectiva. Desde o início tenho podido constatar que essa experiência  de escrita  autoral desperta emoções, mobiliza as memórias e acaba por propiciar um empoderamento positivo que se estende às outras aprendizagens e de maneira significativa aos relacionamentos pessoais entre as apenadas e outros, conforme relatos das educandas.

Quais objetivos foram pensados?

A minha intenção inicial era trabalhar a escrita como procedimento de autoria, ou seja, oportunizar que por meio da escrita de si mesma, as apenadas se vissem para além da condição de privadas de liberdade e se sentissem capazes de traçar outros rumos, tornando-se mais autônomas e capazes de ousarem pensar a vida com outras lentes.

No entanto, considerando os efeitos comportamentais observados no decorrer desse processo, o projeto assumiu mais uma perspectiva: a livre expressão dos sentimentos como ferramenta essencial para a saúde emocional das educandas apenadas.

Nesse sentido, a palavra escrita foi disponibilizada ao grupo como meio de comunicação interpessoal e intrapessoal, como um elemento criativo, um recurso terapêutico ou uma ferramenta de autoajuda. Assim, o planejamento dos temas e as metodologias começaram a ser pensados como recursos para elaborar seus conflitos e a auxiliarem a se desprender de angústias.

A atividade da escrita quando conduzida adequadamente pode ser uma facilitadora desse processo de reconstrução e uma forma de expressão que serve como alívio psíquico para o sujeito em sofrimento e, portanto, passa a ser um recurso importante para a saúde mental e emocional.

Qual o passo-a-passo da realização da experiência?

O primeiro passo (e esse se repetiu a cada início de turma, ou mesmo a cada chegada de uma nova educanda) foi acolher da forma mais cuidadosa possível a singularidade de cada uma. Inicialmente, é preciso estabelecer vínculos e essa vinculação só é possível se permitirmos a conexão do humano que nos habita.

A partir da vinculação e do mapeamento das trajetórias individuais procurei trazer temas existenciais para os projetos de escrita, sempre como um convite e nunca como imposição.

Considero esse conceito de convidar à escrita como ponto central de um projeto de escrita centrado na pessoa e não no código ou no gênero.

Aceito o convite, as dinâmicas de grupo, vivências e jogos integrativos e a leitura de textos de gêneros diversos ajudavam a mobilizar para escrita e a ampliar vocabulário com outras formas de dizer.

Outro ponto importante sempre foi a acolhida ao texto: é preciso receber o texto como um presente do outro, ou seja, a primeira leitura deve buscar no texto a sua essência e não a sua forma. O que é dito, revelado, confidenciado é o que importa. Só depois quando elas se sentiam validadas e com muito cuidado, eu trabalhava a forma. Essa acolhida amorosa faz toda a diferença. E com certeza já era um investimento na saúde mental e emocional das apenadas.

Quais os materiais utilizados nas ações?

Livros, cópias de obras de arte, pendrive para apresentação de vídeos e filmes de acordo com as temáticas experienciadas, TV, aparelho de som, papéis coloridos, lápis de cor, tesoura e cola para trabalhos com desenho, dobraduras e etc.

Quais foram os resultados?

A escrita  tem sido utilizada há milênios para expressar emoções e sentimentos, no entanto, só  recentemente se tem pesquisado sobre a influência da escrita na saúde emocional. 

Smyth e Pennebaker dizem, em um trabalho que escreveram, que o ato de escrever, independente da apropriação da norma culta, traz em sua dimensão subjetiva o potencial de promover benefícios físicos e mentais, com melhorias em longo prazo no humor, nos níveis de estresse e em sintomas depressivos. Sobre esse assunto, Pennebaker; dessa vez com Chung em outro trabalho, defendem que no contexto de um processo de escrita expressiva, quando os indivíduos são convidados a escrever sobre experiências pessoais, positivas ou negativas, dependendo da intencionalidade do terapeuta, é possível perceber melhorias significativas na saúde mental e emocional.

No desenvolvimento desse projeto, pude constatar que, ao transformar seus sentimentos, pensamentos e memórias em palavras grafadas as educandas se acalmavam, conseguiam se relacionar melhor e seu interesse na aprendizagem aumentava.

A cada final de semestre eu podia sentir o orgulho que elas sentiam em conseguir se expressar, escrever cartas, poemas, pequenos livretos... No entanto, em 2018 esse resultado foi melhor representado com a elaboração caseira de um livro de textos autorais das educandas. Na entrega dos livros às autoras eu recebi o prêmio maior com a declaração de uma das educandas: - Ah! Professora! Agora eu não sou somente autora de crime...Agora eu sou autora de livro!

Em 2019 o projeto foi ampliado com a participação da professora de Língua Portuguesa e da professora de Arte, culminando em um novo livro também ilustrado pelas apenadas.

 Acredita que a experiência pode ser replicada em outros lugares?

Com certeza pode ser replicada. No entanto, para que a experiência não seja reduzida ao ato de escrever, numa perspectiva apenas cognitiva eu proponho uma formação específica do docente.  

Imprima a experiência:

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